sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Discurso do Presidente do Uruguai José Pepe Mujica

Enquanto a maioria dos políticos fazem discurso sem nenhum conteúdo aproveitável podemos ver essa maravilha de discurso proferido pelo Senhor Presidente do Uruguai na conferência Rio + 20.

http://www.youtube.com/watch?v=zsOGZKRVqHQ

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Um poema do meu amigo José Estanislau




  A Biodiversidade é Divertida.             
 Para Isabela, Lorenna e Fernanda.
 


Na lagoa dos marrecos ouvi um reco-reco
             no meio dos trecos! 
Na lagoa dos ingleses vi gatos siameses
             amando há meses!...

 Na lagoa dos nordestinos brincavam dois meninos
             de tocar um, dois, três sinos?

 
Na lagoa dos pardais voavam seis animais
              parecidos demais!?
 
Na lagoa dos patinhos construíram muitos ninhos
              de canarinhos...
 
Na lagoa dos patos quinze ratos
              correram para o mato!!!
 
Na lagoa dos mosquitos ecoou um grito
               meio aflitoooooooo...........!
 Na lagoa das borboletas tinha muitas violetas
               sorrindo para uma ave preta.
Na lagoa das formigas aconteceu uma briga
                nas folhas das urtigas!!!!???
 
Na lagoa dos cupins uma lagarta ficou afim
                das folhas do jasmim...!!!

 Na lagoa das rãs Isabela foi de manhã
                colher lindas maçãs...???
 

Na lagoa dos sapos corre um boato:
   uma cadela amamenta um gato.

 Na lagoa dos peixes não há quem não deixe
                muitos enfeites...

 
Agora andam dizendo que a lagoa vai secar!
Que calamidade...
Destruir a biodiversidade!?.
 

J Estanislau Filho


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Uma bela crônica de Affonso Romano




Aos pais dos pais, aos pais, aos filhos e filhas


Antes que elas cresçam


Affonso Romano de
Sant'Anna



Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.



É que as crianças crescem. Independentes de nós, como
árvores, tagarelas e
pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença.
Crescem como a inflação,
independente do governo e da vontade popular. Entre os
estupros dos preços, os disparos
dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com
uma estridência alegre e, às
vezes, com alardeada arrogância.


Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem,
de repente.



Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma
frase de tal maturidade que
você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.



Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não
percebeu? Cadê aquele
cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar
na areia, as festinhas de
aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme
do maternal?



Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e
desobediência civil. E você
está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela
não apenas cresça, mas
apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que
saiam esfuziantes sobre
patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas
filhas, em pleno cio, lindas
potrancas.



Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão
elas, com o uniforme de sua
geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então
com a suéter amarrada na
cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a
suéter, mas não tem jeito, é o
emblema da geração.



Pois ali estamos, depois do primeiro e do segundo
casamento, com essa barba de jovem
executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes,
já com a primeira plástica e
o casamento recomposto. Essas são as filhas que
conseguimos gerar e amar, apesar dos
golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da
ditadura das horas. E elas crescem
meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos
doutoramos nos nossos erros.



Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.



Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi
recebido como um impacto de rosas
vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das
discotecas e festas, quando surgiam
entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura
francesa e inglesa. Saíram
do banco de trás e passaram para o volante de suas
próprias vidas. Só nos resta
dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção
francesa narrando
a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar
no apartamento dela.



Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer
para ouvir sua alma
respirando conversas e confidências entre os lençóis da
infância, e os adolescentes
cobertores daquele quarto cheio de colagens, posteres e
agendas coloridas de pilô. Não,
não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao
Tablado para ver
“Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas,
não lhes compramos
todos os sorvetes e roupas merecidas.



Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.



No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre
embrulhos, comidas,
engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas.
Sim, havia as brigas dentro do
carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e
sanduíches infantis. Depois chegou
a idade em que subir para a casa de campo com os pais
começou a ser um esforço, um
sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na
praia e os primeiros namorados.
Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar
sete anos bíblicos.
Agora é hora de os pais na montanha terem a solidão que
queriam, mas, de repente,
exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.



O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O
neto é a hora do carinho ocioso
e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não
pode morrer conosco. Por isso,
os avós são tão desmesurados e distribuem tão
incontrolável afeição. Os netos são
a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.



Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes
que elas cresçam.

sábado, 15 de setembro de 2012